Imagine que é constantemente invadido por pensamentos que não quer ter ou que sente a necessidade de fazer algo, que sabe que não faz sentido, mas que mesmo assim o faz para aliviar sentimentos ansiosos? 💭😖
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) funciona dessa forma e pode interferir na vida pessoal, nos relacionamentos interpessoais e até no trabalho.
Neste artigo de blog, vamos explorar o que é a Perturbação Obsessivo-Compulsiva, quais as suas causas, sinais, como é feito o diagnóstico e como é possível superar esta condição.
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC), é um transtorno de saúde mental, caracterizado por obsessões e compulsões.
🔸Obsessões: são pensamentos intrusivos, impulsos e imagens mentais frequentes e persistentes.
🔸Compulsões: são ações, comportamentos repetitivos ou atos mentais em resposta às obsessões.
Pessoas com Perturbação Obsessivo-Compulsiva têm frequentemente esses pensamentos intrusivos indesejados que giram em torno de medos que causam ansiedade e angústia significativa.
Como resposta, tentam suprimi-los ou ignorá-los, envolvendo-se em rituais ou comportamentos para aliviar esses sentimentos.
Quando falamos em dados estatísticos sobre a POC é importante referir que:
📊 Nos Estados Unidos, segundo o DSM-5, este transtorno surge por volta dos 19 anos de idade. No entanto, 25% dos casos iniciam até aos 14 anos.
📊 Em Portugal, segundo o Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, 1 em cada 20 pessoas vive com POC - o que representa a quantidade de população no município de Lisboa.
Frequentemente surge a dúvida de “qual é a diferença entre TOC, POC e OCD?”. A resposta é que não existe diferença. A Perturbação Obsessivo-Compulsiva é o termo em português de Portugal, o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é o termo em português do Brasil e Obsessive Compulsive Disorder (OCD) é o termo em inglês, igualmente reconhecido e utilizado no mundo!
⚠️ A POC é ainda bastante confundida com a Perturbação de Personalidade Obsessivo-Compulsiva (PPOC) devido aos seus nomes semelhantes mas, na verdade, são diferentes. A POC envolve este ciclo de obsessões-compulsões enquanto que a PPOC gira em torno do perfecionismo e preocupação excessiva com detalhes, ordem, regras e caracterizada pela devoção profissional.
Além disso, as intervenções são diferentes sendo que na PPOC, é recomendada a Psicoterapia Psicodinâmica (focada na compreensão dos sentimentos e na origem dos padrões rígidos, muitas vezes ligados ao passado, promovendo uma mudança mais flexível com o decorrer do tempo).
Não existem causas específicas para a Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC). No entanto, são confirmados pelo DSM-5 fatores de risco para o seu desenvolvimento. Tais como:
😰 Fatores Temperamentais - Pessoas que desde crianças mostram ansiedade, tendência para emoções negativas (como o medo ou tristeza) e que são muito tímidas e retraídas têm maior probabilidade de desenvolver esta perturbação.
🏠 Fatores Ambientais - Relacionado com experiências e vivências. Eventos traumáticos, negativos e muito stressantes aumentam o risco do desenvolvimento de POC.
Em alguns casos, crianças podem desenvolver sintomas obsessivo-compulsivos devido a fatores ambientais incluindo agentes infecciosos.
🧬 Fatores Genéticos e Fisiológicos - A presença de POC na família aumenta o risco de desenvolvimento. Disfunções no cérebro estão também envolvidas no desenvolvimento da perturbação.
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) manifesta-se por um ciclo persistente de obsessões e compulsões que, por causarem ansiedade e angústia, interferem de forma significativa na esfera pessoal, social e profissional.
As obsessões são percebidas pela própria pessoa como excessivas ou irracionais, mas ainda assim, são difíceis ou impossíveis de controlar. Estas preocupações e medos excessivos, giram em torno de:
1️⃣ Preocupações com contaminação.
2️⃣ Receio de prejudicar os outros de forma acidental ou intencionalmente.
3️⃣ Medo de cometer um erro grave.
4️⃣ Medo de contrair uma doença.
As compulsões surgem como uma forma de resposta às obsessões para prevenir um evento temido ou receio. Apesar de oferecerem um alívio temporário, estas pequenas ações agravam e reforçam o ciclo obsessivo-compulsivo.
As compulsões consomem tempo do dia ao ponto de surgirem atrasos significativos ou até faltar ao emprego, à escola ou a outros compromissos e responsabilidades. Algumas pessoas podem, inclusive, desenvolver problemas em relação a sair de casa.
Assim, algumas dessas compulsões passam pela:
🔹Limpeza
Desde a higiene pessoal (como a lavagem excessiva das mãos e número de banhos) à limpeza da casa.
🔹Repetição
De comportamentos simples como reescrever ou reler algo (porque não o fez de forma correta) ou de atividades de rotina como levantar e sentar repetidamente até se sentir confortável.
🔹Avaliação e verificação
Em resposta a dúvidas e receios (como a verificação de fechaduras, portas, eletrodomésticos) ou de proteger o bem-estar pessoal ou de terceiros (examinar ferimentos, verificar se não causou algum acidente, etc).
🔹Ordenação e organização
Necessidade inevitável de ordenar e organizar repetidamente objetos até se sentir bem com a sua disposição/arrumação.
🔹Contagem
Necessidade de contar peças, objetos, ou repetir uma ação um determinado número de vezes.
🔹Rituais
Desde rezar, substituir pensamentos maus por bons, comportamentos supersticiosos.
Além dos sinais e sintomas mencionados, as pessoas com POC tendem a esconder os seus sintomas e sentem frequentemente culpa e vergonha pelos seus comportamentos.
O diagnóstico da Perturbação Obsessivo-Compulsiva é realizado em contexto clínico, por profissionais de saúde mental, tendo por base entrevistas, observação comportamental e critérios definidos em manuais internacionais como o DSM-5 ou o ICD-11.
Desta forma, segundo dados do DSM-5, é necessário que se verifique:
🔸 A presença de obsessões e/ou compulsões intrusivas e indesejadas que causam ansiedade ou sofrimento.
🔸A pessoa tenta suprimir ou ignorar as obsessões com outro pensamento ou ação (compulsões) com o objetivo de prevenir ou reduzir a ansiedade, sofrimento ou evitar algum acontecimento ou situação temida.
🔸As obsessões ou compulsões consomem tempo (mais de uma hora por dia, por exemplo) e causam angústia e sofrimento significativos prejudicando outras esferas da vida da pessoa.
🔸Os sintomas obsessivos não se devem a efeitos fisiológicos causados por substâncias, outra condição médica ou transtornos mentais.
Para a intervenção da Perturbação Obsessivo-Compulsiva, um artigo publicado no Cureus realça o papel de algumas intervenções, como é o caso da psicoterapia e intervenções farmacológicas.
Na NeuroImprove Clinic fornecemos cuidados de tratamento compassivos e eficazes para as pessoas que enfrentam a POC, adaptando a abordagem às necessidades únicas de cada indivíduo.
👉 O Eletroencefalograma quantitativo (qEEG) fornece uma avaliação objetiva da atividade cerebral, ajudando-nos a identificar padrões específicos associados à POC. Esta informação permite-nos elaborar protocolos de tratamento personalizados e adaptados à dinâmica cerebral de cada indivíduo.
👉 Após o qEEG, caso se verifiquem desregulações do padrão de atividade cerebral, será aconselhado o Neurofeedback, que é uma técnica não-invasiva e que ajuda as pessoas a autorregular a atividade cerebral. Ao trabalhar a desregulação neural subjacente, o Neurofeedback visa reduzir os sintomas da POC e melhorar o bem-estar geral.
👉 As Sessões Psicoterapêuticas surgem também como um pilar da nossa abordagem. Aqui entra a Terapia Cognitivo-Comportamental que ajuda as pessoas a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamentos negativos através de técnicas e ferramentas validadas que resultam num maior controlo dos sintomas e promovem respostas mais saudáveis.
Procuramos, quando necessário, uma abordagem colaborativa que envolve a família e os amigos como aliados nesta jornada terapêutica. Além da rede pessoal de apoio, colaboramos com outros profissionais de saúde que possam complementar o tratamento.
Para lidar com alguém com POC é necessário sobretudo compreensão. Compreensão de que esta é uma condição real e limitante que causa sofrimento e incapacidade à pessoa.
Para prestar apoio a alguém que sofre com esta perturbação é importante que:
🔹 Procure informações sobre esta condição (para conseguir criar uma maior ligação com a pessoa).
🔹 Seja empático e evite qualquer tipo de julgamento ou crítica. Este tipo de comportamento causa maior ansiedade e aumenta o sentimento de culpa e vergonha, normalmente associados a este diagnóstico.
🔹 Incentive a procura de ajuda profissional. É, naturalmente, uma perturbação difícil de gerir e que impacta o bem-estar e vida da pessoa, por isso, incentivar a intervenção profissional é um passo importante e fundamental.
🔹 Se a pessoa diagnosticada pedir que ajude ou colabore com as compulsões, tente não o fazer. Participar nesses rituais pode reforçar e piorar a perturbação. Opte por dizer algo “Eu percebo que isto é importante para ti e que te deixa ansioso, mas vamos tentar evitar fazê-lo por agora”.
🔹 Cuide de si! Ajudar alguém com POC pode ser também desgastante. Pode procurar aconselhamento de profissionais de saúde mental e impor alguns limites saudáveis.
A exposição da perturbação provoca, inevitavelmente, desconforto à pessoa. Por essa razão, adotar estratégias de relaxamento, como a respiração diafragmática, a terapia body-scan e o relaxamento muscular progressivo, podem ser muito úteis para lidar mais facilmente com esse desconforto.
Estudos científicos e organizações internacionais apontam que a Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) e a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) podem coexistir, sendo que pessoas que apresentam POC na infância costumam ter taxas elevadas de PHDA.
Dados do DSM-5 mencionam ainda que a PHDA é comórbida com outros transtornos, como é o caso da POC, mas também com a:
(sendo que os dois últimos ocorrem em menor percentagem), entre outras perturbações.
Este é um transtorno que impacta vários aspetos da vida diária, desde os relacionamentos interpessoais ao trabalho, e afeta milhões de pessoas. Mais do que um conjunto de rituais ou preocupações, trata-se de uma interação complexa de pensamentos e ações, muitas vezes sem conexão ou lógica real que provoca grande prejuízo na qualidade de vida.
Compreender a Perturbação Obsessivo-Compulsiva é o primeiro passo para uma gestão eficaz e recuperação. Na NeuroImprove damos prioridade à criação de um ambiente de apoio onde as pessoas se sintam ouvidas e compreendidas, promovendo uma abordagem personalizada que contribui para a otimização do tratamento e a qualidade de vida.
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