Borderline: o que é e como reconhecer?

December 9, 2025

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), também conhecido como personalidade borderline ou personalidade limítrofe, é uma das perturbações da saúde mental mais estudadas e, simultaneamente, mais incompreendidas. 

De acordo com dados do National Institute of Mental Health, o TPB afeta cerca de 1,4% da população geral, embora a prevalência em contextos clínicos seja significativamente mais elevada, podendo chegar a 10%. 

Por sua vez, a American Psychiatric Association indica estimativas entre 1,6% e 5,9%, sugerindo que o número de diagnósticos pode variar.

Apesar de afetar uma minoria da população, o impacto emocional, relacional e funcional é profundo, afetando a forma como a pessoa sente, pensa, reage, constrói relações, lida com rejeições e se percebe a si própria. 🧠

O que é o Transtorno de Personalidade Borderline?

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é uma perturbação de saúde mental complexa que influencia profundamente a maneira como os indivíduos se percebem a si próprios e se relacionam com os outros.

As pessoas com TPB sentem emoções intensas com mudanças rápidas que podem representar desafios nos seus relacionamentos, autoimagem e bem-estar geral. É crucial reconhecer o TPB como um problema de saúde genuíno, e não uma mera escolha ou falha pessoal.

Borderline: sintomas mais comuns

O TPB envolve um padrão persistente de instabilidade emocional, comportamental, relacional e identitária. 

Estes são alguns dos sintomas mais frequentemente observados:

💔 Relacionamentos intensos e instáveis: Indivíduos com TPB podem oscilar rapidamente entre idealizar e desvalorizar uma pessoa. Esta volatilidade provoca relações turbulentas, tanto pessoais como profissionais.

🙃 Extrema flutuação emocional: A instabilidade emocional é central no TPB. A pessoa pode passar de uma alegria intensa para uma tristeza profunda ou raiva intensa num curto espaço de tempo, com respostas por vezes desproporcionais.

👤 Distúrbio de identidade: Há dificuldade em manter uma autoimagem consistente, o que leva a mudanças em valores, objetivos, preferências e comportamentos.

⚠️ Comportamento impulsivo: A impulsividade pode manifestar-se em gastos excessivos, consumo de substâncias, sexo desprotegido, condução perigosa ou alimentação compulsiva.

😨 Medo intenso de abandono: O medo de abandono (real ou imaginado) pode desencadear comportamentos desesperados para manter pessoas próximas.

😞 Sentimentos crónicos de vazio: Uma sensação constante de vazio ou “desligamento” emocional.

🤕 Comportamentos de autolesão: Incluindo automutilação e ideação suicida (ameaças ou tentativas reais).

Borderline: sintomas físicos existem?

Embora o TPB seja uma perturbação emocional e comportamental, muitos indivíduos referem sintomas físicos associados ao stress emocional, tais como:

  • Tensão muscular
  • Dores de cabeça
  • Exaustão extrema
  • Dificuldade em dormir
  • Alterações no apetite
  • Sensação de “nó no estômago”

Estes sintomas não são causados diretamente pela personalidade borderline, mas sim pela intensidade emocional prolongada.

Quais são os 4 tipos de borderline? (Subtipos de Millon)

Ainda que não façam parte dos critérios oficiais do DSM-5, os subtipos propostos por Theodore Millon são amplamente estudados e ajudam a compreender diferentes padrões comportamentais dentro do TPB.

São eles:

1. Borderline Impulsivo: Predomina a impulsividade, sensibilidade à rejeição e comportamentos de risco.

2. Borderline Desanimado (Discouraged): Mistura traços de dependência, insegurança, autocrítica e medo acentuado de abandono.

3. Borderline Petulante: Pessoa facilmente irritável, ressentida, ciumenta, com frustração intensa.

4. Borderline Autodestrutivo (Self-Destructive): Inclui comportamentos autossabotadores, risco suicida e impulsividade voltada contra si própria.

Estes subtipos não são diagnósticos formais e não impactam diretamente no tipo de tratamento utilizado, mas podem ajudar a compreender nuances individuais.

O que causa o Transtorno de Personalidade Borderline?

O TPB não tem uma causa única. A investigação indica um modelo multidimensional:

🧬 Fatores genéticos: Há evidência de hereditariedade significativa. Quando há antecedentes familiares, a probabilidade de desenvolver a condição pode ser até cinco vezes maior!

👪 Ambiente familiar e experiências precoces: História de negligência emocional, abandono, abusos, traumas ou relações instáveis pode aumentar o risco.

🥹 Temperamento emocionalmente sensível: Algumas pessoas nascem com maior reatividade emocional.

🧠 Alterações na neurobiologia: Diferenças nas áreas cerebrais responsáveis pela integração emocional e controlo de impulsos.

Diagnóstico: como saber se tenho Borderline?

O diagnóstico deve ser realizado por psicólogos ou psiquiatras especializados em perturbações da personalidade. 

Geralmente inclui:

  • Entrevista clínica detalhada
  • História de vida e relações interpessoais
  • Padrões de instabilidade emocional
  • Avaliação de impulsividade e comportamentos de risco
  • Exclusão de outras condições (ansiedade, bipolaridade, trauma, depressão)

Tratamento do Transtorno Borderline: o que funciona?

Ao contrário do que se acreditava há algumas décadas, o TPB tem tratamento e melhora com intervenção adequada. ✨

1. Psicoterapia (tratamento de primeira linha)

Os modelos com maior evidência científica incluem:

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
    Muito eficaz para impulsividade, autolesão e regulação emocional.

  • Terapia Baseada em Mentalização (MBT)
    Ajuda a perceber estados internos e interpretar emoções.

  • Terapia Focada nos Esquemas
    Trabalha padrões emocionais profundos.

  • Terapia de Transferência (TFP)
    Focada em relações e padrões interpessoais.

2. Medicação

Não trata o TPB diretamente, mas pode ajudar com alguns sintomas associados:

3. Intervenção psicoeducativa

Fundamental para ajudar a pessoa e a família a compreender o funcionamento emocional.

4. Estabilização emocional e rotinas

Mudanças estruturais no dia a dia ajudam a reduzir crises emocionais.

Lembramos que o TPB é desafiante, mas não é uma sentença — é uma condição tratável.

Considerações finais sobre Borderline

O transtorno de personalidade borderline é uma perturbação complexa, marcada por emoções intensas, instabilidade emocional e dificuldades nas relações. Compreender o que é borderline, os seus sintomas, causas e padrões é o primeiro passo para reduzir estigma e promover acesso a tratamento adequado.

Se observa comportamentos emocionais intensos, impulsividade, dificuldades de regulação ou instabilidade relacional em si ou no seu filho, é importante procurar apoio profissional.

A nossa equipa pode ajudar com uma avaliação completa focada no desenvolvimento emocional e na saúde mental dos mais jovens.

A intervenção precoce é uma das melhores formas de prevenir sofrimento futuro e fortalecer competências emocionais ao longo da vida. 💙

Referências

American Psychiatric Association: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th ed Text Revision (DSM-5-TR). Washington, DC, American Psychiatric Association, 2022, pp 752.

Leichsenring, F., Heim, N., Leweke, F., Spitzer, C., Steinert, C., & Kernberg, O. F. (2023). Borderline Personality Disorder: A Review. JAMA, 329(8), 670–679. https://doi.org/10.1001/jama.2023.0589

National Institute of Mental Health (NIH), 2025. Borderline Personality Disorder. Department of Health and Human Services, National Institutes of Health. https://www.nimh.nih.gov/health/publications/borderline-personality-disorder 

Stoffers, J. M., Völlm, B. A., Rücker, G., Timmer, A., Huband, N., & Lieb, K. (2012). Psychological therapies for people with borderline personality disorder. The Cochrane database of systematic reviews, 2012(8), CD005652. https://doi.org/10.1002/14651858.CD005652.pub2

Ten Have, M., Verheul, R., Kaasenbrood, A., van Dorsselaer, S., Tuithof, M., Kleinjan, M., & de Graaf, R. (2016). Prevalence rates of borderline personality disorder symptoms: a study based on the Netherlands Mental Health Survey and Incidence Study-2. BMC psychiatry, 16, 249. https://doi.org/10.1186/s12888-016-0939-x 

Torgersen, S., Lygren, S., Oien, P. A., Skre, I., Onstad, S., Edvardsen, J., Tambs, K., & Kringlen, E. (2000). A twin study of personality disorders. Comprehensive psychiatry, 41(6), 416–425. https://doi.org/10.1053/comp.2000.16560 

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