Alguma vez sentiu que agiu sem pensar? 🤔 No decorrer do nosso dia a dia somos constantemente confrontados com decisões para tomar. Algumas destas decisões envolvem alguma ponderação, no entanto, outras são praticamente instantâneas.
Quem nunca fez uma compra por impulso ou disse algo sem pensar nas consequências? A verdade é que a impulsividade é um comportamento humano que todos experienciamos em algum momento da nossa vida.
Assim, a impulsividade levanta questões importantes sobre o controlo que temos (ou não) nas nossas próprias ações. Somos seres racionais, mas basta um pequeno estímulo para que a racionalidade seja posta em causa.
👉 Mas afinal, o que é realmente a impulsividade e até que ponto esta influencia as nossas vidas?
A impulsividade tem sido definida como a tomada de uma ação rápida sem deliberação ou julgamento prévio consciente.
📖 Um estudo sobre Os Aspectos Psiquiátricos da Impulsividade menciona que a impulsividade, segundo Patton et al. é separada em três componentes:
Podemos entender melhor este último ponto ao analisarmos o experimento realizado por Walter Mischel nos anos 60: a Experiência do Marshmallow. Este experimento ajuda-nos a compreender o conceito de controlo inibitório - a capacidade de inibir uma reação imediata, impulsiva e automática (neste caso, comer o marshmallow) para criar uma resposta racional (aguardar uma recompensa maior).
Mas o que é ser uma pessoa impulsiva?
💭 Ser uma pessoa impulsiva é agir sem ponderar as consequências, ou seja, a pessoa é movida pelo momento presente. É alguém que faz, por exemplo, uma compra dispendiosa por impulso, que interrompe uma conversa porque sente necessidade de se expressar imediatamente, ou que envia uma mensagem num momento de angústia sem pensar duas vezes.
A impulsividade pode manifestar-se em situações do dia a dia, como aceitar um convite sem verificar a agenda, mas também em decisões mais importantes como mudar de emprego ou terminar uma relação repentinamente.
Muitas vezes estes impulsos são difíceis de controlar e a pessoa só percebe posteriormente que devia ter agido de outra forma.
A impulsividade pode ser significativamente controlada através de tratamentos psicológicos, estratégias comportamentais e, em alguns casos, medicação. Através da intervenção adequada, é possível ganhar um maior autocontrolo e tomar decisões mais ponderadas.
Controlar a impulsividade é um processo que requer prática, consciência e persistência. Não se trata de eliminar por completo os impulsos, pois estes fazem parte da natureza humana, mas de desenvolver a capacidade de escolher respostas mais adequadas.
💡 Assim, existem alguns exercícios para controlar a impulsividade:
Tem como objetivo desenvolver o hábito de refletir antes de agir. Consiste em concretizar três pequenos passos quando se sente um impulso:
🔸Parar - Respirar fundo e interromper a ação;
🔸Pensar - Analisar a situação. Refletir sobre o que se está a sentir e quais serão as consequências dessa mesma ação?;
🔸Agir - Tomar uma decisão baseada nos passos anteriores.
Tem como objetivo reduzir reações emocionais e acalmar o sistema nervoso. Para isso, é importante que procure:
🔸Sentar-se confortavelmente;
🔸Inspirar pelo nariz contando até 4;
🔸Suster a respiração de 2 a 4 segundos;
🔸Expirar lentamente pela boca contando até 6;
🔸Repetir os passos anteriores durante 2-5 minutos.
Tem como objetivo identificar padrões e promover a autoconsciência. Este exercício consiste em descrever diariamente os seus impulsos respondendo às seguintes questões:
🔸O que aconteceu?
🔸O que sentiu?
🔸Como reagiu?
🔸Qual foi o resultado?
🔸O que poderia ter feito de forma diferente?
Com o tempo, pode tornar-se capaz de perceber os gatilhos para os seus comportamentos impulsivos e antecipar melhor certas situações.
Tem como objetivo antecipar cenários e preparar respostas mais equilibradas. Para isso, é importante que siga os seguintes passos:
🔸Comece por imaginar uma situação em que normalmente age de forma impulsiva;
🔸Visualize-se a enfrentar com calma, controlo e clareza;
🔸Repita esta visualização regularmente.
Esta técnica consegue treinar o cérebro de forma mais consciente antes da situação de facto acontecer.
Por último, mas não menos importante, este exercício tem como objetivo evitar decisões precipitadas, especialmente em situações emocionais intensas. Consiste em:
🔸Dar a si próprio um espaço de tempo seja 10 minutos, 1 hora ou 1 dia;
🔸Durante este período de tempo procure afastar-se de pensamentos sobre a situação em concreto e só depois decorrido esse tempo, volte a focar-se nela novamente.
👉 A impulsividade está frequentemente associada a alterações nas ondas cerebrais, especialmente na zona do lobo frontal — área responsável pelas funções executivas, controlo dos impulsos, atenção e autorregulação. Para compreender este comportamento, é essencial olhar para a sua origem: o cérebro.
O Neurofeedback, que é a base da nossa intervenção, permite regular a atividade cerebral de forma não invasiva. Com essa regulação, é possível reduzir significativamente os comportamentos impulsivos.
Como complemento, recorremos às técnicas mencionadas anteriormente no âmbito da Terapia Cognitivo-Comportamental, utilizada nas nossas consultas de Psicologia Clínica, que potenciam os resultados ao longo do tempo.
Ainda que a impulsividade seja uma condição bastante presente na PHDA, - segundo um estudo publicado no Journal of Clinical Medicine (2024) - esta não é exclusiva deste diagnóstico e pode manifestar-se em várias condições relacionadas à saúde mental. 🧠
Segundo Moller et al. alguns quadros clínicos têm sido muito associados à impulsividade:
👉 Estudos analisaram o comportamento humano em laboratório concluindo que a PHDA está associada a elevados níveis de impulsividade. Estes níveis de impulsividade constam que possam estar relacionados com a função da dopamina - um neurotransmissor que desempenha um papel importante no cérebro - que tem implicações no tratamentos desta perturbação.
👉 No que toca à Perturbação de Ansiedade, a impulsividade está também presente. Um estudo sobre Impulsividade nos Transtornos de Ansiedade: Uma Revisão Crítica, conclui que existe uma relação entre a ansiedade e a impulsividade especialmente em pessoas com tendência para desinibição comportamental.
👉 A impulsividade é um dos traços centrais na Perturbação de Personalidade Borderline. A dificuldade de lidar com emoções intensas e instáveis contribui para este tipo de reações sem reflexão prévia.
👉 A impulsividade é uma componente frequente do Transtorno de Personalidade Antissocial, no entanto, o grau de impulsividade pode variar de pessoa para pessoa. Estudos sugerem que há diferenças claras entre indivíduos com personalidade antissocial que têm um padrão de comportamentos impulsivos (sobretudo agressivos) e aqueles que não apresentam este tipo de impulsividade.
👉 Embora existam poucos estudos que tenham medido diretamente a impulsividade no Transtorno Bipolar, parece haver uma associação entre o diagnóstico e comportamentos impulsivos que vão além dos episódios de alteração do humor. Além disso, ainda não é claro se a impulsividade entre episódios é um fator de risco para o desenvolvimento do transtorno ou se é uma consequência da experiência acumulada ao longo de múltiplos episódios.
👉 A impulsividade faz parte da natureza do ser humano, no entanto, é necessário termos o discernimento de perceber quando começa a ser prejudicial para o nosso bem-estar.
Se sente que a impulsividade está de alguma forma a impactar alguma esfera da sua vida - pessoal, profissional ou emocional - é importante procurar ajuda profissional. Este pode ser o primeiro passo para que consiga recuperar o seu controlo.
A NeuroImprove Clinic dispõe de uma equipa de profissionais prontos para ajudar a contornar qualquer dificuldade. Entre em contacto connosco para saber mais - saiba que não está sozinho nesta jornada. 🫂
F. Gerard Moeller, M.D., Ernest S. Barratt, Ph.D., Donald M. Dougherty, Ph.D., Joy M. Schmitz, Ph.D., and Alan C. Swann, M.D. (2001). Psychiatric Aspects of Impulsivity. The American Journal of Psychiatry, 158, 11. doi: https://doi.org/10.1176/appi.ajp.158.11.1783
Franczak, L., Podwalski, P., Wysocki, P., Dawidowski, B., Jedrzejewski, A., Jabloński, M., & Samochowiec, J. (2024). Impulsivity in ADHD and Borderline Personality Disorder: A Systematic Review of Gray and White Matter Variations. Journal of Clinical Medicine, 13(22), 6906. doi: https://doi.org/10.3390/jcm13226906
Jakuszkowiak-Wojten K, Landowski J, Wiglusz MS, Cubała WJ. Impulsivity in anxiety disorders. A critical review. Psychiatr Danub. 2015 Sep;27 Suppl 1:S452-5. PMID: 26417814.