Burnout: a exaustão emocional, física e mental que poucos se apercebem

Considerada uma das epidemias do século XXI, o Burnout é mais comum do que imaginamos. 

💭 Comecemos com uma pequena reflexão: alguma vez sentiu que perdeu o controlo do seu trabalho? Já sentiu uma pressão constante, por largos períodos de tempo para, por exemplo, cumprir prazos? Já sentiu que tinha uma rotina laboral tão exaustiva ao ponto de acordar de manhã sem motivação para enfrentar o resto do seu dia?

Estes podem ser alguns sinais de que enfrenta ou já enfrentou uma situação de burnout. 

Neste artigo de blog, refletimos mais aprofundadamente sobre o que é um burnout, os sintomas associados, bem como sugestões de como intervir.

O que é um burnout?

O burnout é atualmente reconhecido pela Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial da Saúde como uma síndrome resultante de stress crónico no local de trabalho (que deixa de ser momentâneo ou pontual e que passa a ser constante). É caracterizada por três dimensões principais: 

  1. Sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia; 
  2. Aumento do distanciamento mental, sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao próprio trabalho;
  3. Redução da eficácia profissional. 

Manifesta-se assim como um estado persistente de exaustão emocional, física e mental que se desenvolve quando as exigências surgem e os recursos para lhes fazer face - como o tempo, o apoio ou o reconhecimento - são insuficientes.

De acordo com um estudo publicado na PLOS One, a exposição prolongada a esta síndrome pode ter impactos sérios na saúde, como o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, problemas do sono, baixa imunidade, entre outras complicações que comprometem o bem-estar geral.

Apesar de muitas vezes poderem ser confundidos, o burnout e o esgotamento não são exatamente a mesma coisa. No entanto, compreender as suas diferenças é importante para um diagnóstico mais preciso.

Burnout e esgotamento: em que consistem e no que diferem?

Quais são as diferenças entre estas duas condições?

O esgotamento está associado a períodos curtos de stress intenso. É uma resposta aguda a exigências emocionais, físicas ou mentais que podem ocorrer em diferentes contextos da vida.

Podemos compará-lo a uma luz de alerta 🚨 - uma indicação de que precisamos de abrandar e fazer uma mudança na nossa rotina e estilo de vida.

Já o Burnout, é algo mais complexo. Está ligado ao contexto profissional e é desenvolvido quando estamos expostos ao stress intenso por longos períodos de tempo. É uma condição mais profunda com repercussões maiores para o nosso bem-estar geral.

Quais são os sinais de esgotamento? E do burnout?

Quando estamos expostos a uma pressão excessiva, o nosso corpo e mente dão sinais de que algo não está bem. Estes sinais são um alerta de que é necessário parar e procurar restabelecer o equilíbrio no nosso interior. 

Provavelmente poderá questionar-se: “Como saber se estou com burnout ou esgotamento? Quais são os sinais a que devo estar atento(a)?

Ambas as condições partilham os mesmos sintomas, distinguindo-se na intensidade e, como vimos anteriormente, na sua origem. Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, mas ambas afetam a qualidade de vida e o bem-estar emocional. 

Para uma melhor visualização e compreensão desta distinção, podemos recorrer a uma comparação simples com a sinalização de um semáforo 🚦:

Esta analogia permite compreender que o esgotamento é um sinal de que algo precisa de atenção e que o burnout representa algo com consequências mais graves e duradouras! 

Estar atento e reconhecer os sinais é essencial para agir atempadamente e evitar que os sintomas se agravem:

🔹Cansaço constante - Sensação de exaustão mesmo após uma boa noite de sono;

🔹Dificuldade de concentração - Tarefas simples tornam-se difíceis e esquecimentos tornam-se frequentes;

🔹Irritabilidade e mudanças de humor - Existem oscilações de humor e a pessoa pode sentir-se irritada ou impaciente muito facilmente;

🔹Falta de motivação - Perda de interesse por atividades antes prazerosas;

🔹Sensação de sobrecarga - Tudo parece excessivo, desde responsabilidades, a tarefas e decisões. Sensação de incapacidade para concretizar objetivos;

🔹Problemas de sono - Insónias e noites mal dormidas. O sono deixa de cumprir a sua função reparadora;

🔹Isolamento social - Necessidade de estar sozinho(a) evitando conversas ou convívios;

🔹Despersonalização - Distanciamento e indiferença emocional em relação ao trabalho e às outras pessoas;

🔹Perda de sentido profissional - Desconexão com o propósito profissional e dúvidas sobre a própria utilidade na empresa;

🔹Sensação de estar preso num ciclo sem fim - Sensação de estar preso numa rotina negativa. A pessoa acha que não vai conseguir fazer um bom trabalho;

🔹Elevada autocrítica e baixa autoestima - A pessoa sente que está constantemente a falhar ou que o que faz não é suficiente;

🔹Exaustão crónica e resistência ao descanso - A mente está constantemente acelerada e parar só gera sentimento de culpa;

Se, de alguma forma, consegue se identificar com vários pontos aqui descritos, talvez seja o momento de parar e pensar no que o seu corpo e mente estão a tentar transmitir. A boa notícia, é que há formas de recuperar e o primeiro passo é o reconhecimento.

Como prevenir e tratar a síndrome de burnout

Reconhecer que estamos a atravessar um período desafiante que nos está a afetar em vários níveis pode ser difícil. No entanto, esse é o primeiro passo: reconhecer o problema e fazer uma mudança.

O processo de cura exige tempo e acima de tudo empatia para connosco - sermos capazes de perceber que é necessário abrandar a rotina e mudar as nossas prioridades para dar ao corpo e à mente exatamente aquilo que precisam: descanso e apoio profissional.

Como prevenir o burnout

No que diz respeito à prevenção, é importante, desde cedo, colocar limites saudáveis. Existem, por isso, algumas estratégias que podem ajudar a minimizar os sintomas e promover um maior bem-estar:

🔸Reconhecer os próprios limites - É importante aprender a dizer que “não” - desde recusar uma tarefa extra ou redefinir prazos.

🔸Identificar os principais fatores de stress - É fundamental fazer uma introspecção e perceber o que está a causar maior desgaste e procurar formas de lidar com essas fontes - e se possível reduzi-las;

🔸Retomar atividades/hobbies prazerosos - Retomar atividades que antes nos traziam alegria ou explorar novos hobbies é uma forma de promover o que nos faz bem. Desde ler, pintar, cozinhar ou fazer desporto, ou seja, atividades que promovam a diversão;

🔸Incluir práticas de autorregulação - É importante recorrer a exercícios que promovam o nosso equilíbrio. Desde exercícios de respiração, relaxamento muscular, mindfulness ou até meditação;

🔸Falar com alguém de confiança - Desde um colega, amigo ou familiar, verbalizar aquilo que sentimos ajuda a organizar os nossos pensamentos e pode dar-nos novas perspectivas. Escolha alguém em quem confie. 

🔸Estabelecer uma rotina de sono saudável - Pessoas com burnout apresentam frequentemente insónias ou sono pouco reparador. Crie hábitos de sono consistentes e evite ecrãs antes da hora de dormir;

🔸 Fazer pausas no trabalho - Pausas ajudam a reduzir a sobrecarga mental e aumentam a produtividade a longo prazo. Técnicas como o método Pomodoro ou apenas levantar-se para esticar o corpo e respirar fundo, podem fazer a diferença. 

Estas condições, aliadas a um bom ambiente de trabalho, são fulcrais para prevenir o desenvolvimento da síndrome de burnout.

Como tratar o burnout

Já o tratamento, além de implicar uma mudança estrutural em certos aspectos da vida da pessoa, implica também o apoio e acompanhamento por profissionais especializados

Na NeuroImprove, reconhecemos que a experiência do Burnout precisa de ser abordada como algo único porque cada pessoa é diferente e tem a sua própria história de vida. Por isso, a nossa abordagem é personalizada às necessidades individuais.

A Terapia Cognitivo-Comportamental é a base das nossas consultas de Psicologia, que permite desenvolver o autoconhecimento e aprender a estabelecer os limites e hábitos saudáveis de forma a que cada pessoa encontre o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Além disso, são transmitidas técnicas de gestão de stress, incluindo exercícios de atenção e relaxamento para um maior desempenho e gestão emocional.

Aliada às consultas de Psicologia, está o Neurofeedback que utiliza resultados do eletroencefalograma quantitativo (qEEG) para identificar desequilíbrios na atividade cerebral e corrigi-las.

Um estudo publicado no BioMed Research International, demonstra que podem existir alterações específicas no cérebro de pessoas com burnout - reforçando a eficácia do qEEG no seu diagnóstico. 

Com o decorrer das sessões de Neurofeedback, vão ser perceptíveis algumas melhorias como uma maior clareza mental e estabilidade emocional. 

Existe alguma relação entre o burnout com a PHDA?

Sim, as pessoas que vivem com a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) estão mais vulneráveis para desenvolver a Síndrome de Burnout. 

Segundo um estudo na AIMS Public Health, a dificuldade nas funções executivas - como auto-organização, gestão do próprio tempo, resolução de problemas e memória de trabalho - podem levar ao desenvolvimento de burnout.

Além disso, o stress crónico associado a esta síndrome, tende a agravar inevitavelmente os sintomas da PHDA criando um ciclo difícil de romper sem o apoio adequado. Desta forma, tratar a PHDA ajuda também a aliviar os sintomas do burnout uma vez que existe uma redução dos fatores que contribuem para o esgotamento emocional e mental. 

Considerações Finais

👉 O Burnout pode começar por se manifestar de forma despercebida, no entanto, com o passar do tempo e com o agravamento de sintomas, prejudica tanto a saúde como a qualidade de vida. 

Quando estamos perante uma situação como esta, o apoio profissional é indispensável para que seja possível recuperar novamente o equilíbrio da nossa vida e reencontrar o propósito.

A Terapia Cognitivo-Comportamental e o Neurofeedback são dois aliados que permitem não só uma atuação direta no nosso cérebro, mas também uma orientação ao nível mental, emocional e na jornada do autoconhecimento.

Lembre-se que a prevenção começa por impor limites saudáveis e que o equilíbrio entre as duas esferas - pessoal e profissional - nunca deve ser esquecido. ⚖️

Referências

Golonka, K., Gawlowska, M., Mojsa-Kaja, J., Marek, T. Psychophysiological Characteristics of Burnout Syndrome: Resting-State EEG Analysis. BioMed Research International. 2019, 3764354, 8 pages, 2019.  https://doi.org/10.1155/2019/3764354

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). CID: burnout é um fenómeno ocupacional (2019). https://www.paho.org/pt/noticias/28-5-2019-cid-burnout-e-um-fenomeno-ocupacional

Patron, D. (2024) A Systematic Review Examining the use of Neurofeedback as an intervention in the Management of Burnout. University of the Witwatersrand Johannesburg. 

Salvagioni, D. A. J., Melanda, F. N., Mesas, A. E., González, A. D., Gabani, F. L., Andrade, S. M. (2017) Physical, psychological and occupational consequences of job burnout: A systematic review of prospective studies. PLoS ONE 12(10): e0185781. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0185781

Turjeman-Levi, Y., Itzchakov, G., Engel-Yeger, B. Executive function deficits mediate the relationship between employees' ADHD and job burnout. AIMS Public Health, 2024, 11(1): 294-314. doi: 10.3934/publichealth.2024015

Yasmin, K., Yaqoob, A., Sarwer, H. (2022). Effect of Cognitive Behavioral Therapy (CBT) Based Intervention on Resilience and Burnout among Staff Nurses Working in Critical Care Departments. Pakistan Journal of Medical & Health Sciences, 16(03), 295. https://doi.org/10.53350/pjmhs22163295

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