Quantas vezes já se questionou sobre aquilo que vê? 😵💫
As ilusões de ótica são imagens que desafiam a nossa perceção visual e revelam muito sobre como o cérebro processa a realidade.
Neste artigo, exploramos algumas das nossas ilusões visuais preferidas – como o famoso vestido branco/dourado ou azul/preto – e explicamos o que está por trás destas confusões visuais, com base em evidências da neurociência.
Uma ilusão de ótica (ou ilusão de óptica) consiste em imagens que são captadas pelos olhos de uma forma, mas interpretadas de maneira distinta pelo cérebro.
Ou seja, vemos algo que não corresponde precisamente ao que está diante de nós.
O cérebro interpreta os estímulos visuais com base em experiências anteriores, contexto e expectativa e, por vezes, comete erros.
Segundo um artigo publicado na Nature Reviews Neuroscience (2015), estas ilusões são manifestações naturais das “heurísticas cognitivas”: atalhos que o cérebro utiliza para decifrar rapidamente o ambiente.
Embora estes atalhos funcionem na maioria das situações, podem originar distorções percetivas.
Vamos conhecer cinco ilusões visuais fascinantes que mostram como o cérebro pode ser facilmente enganado:
Esta imagem mostra uma árvore aparentemente comum, mas com atenção é possível identificar vários rostos entre os galhos e o tronco.
Este tipo de ilusão de ótica é um exemplo de pareidolia: um fenómeno psicológico em que o cérebro humano interpreta estímulos visuais ambíguos como sendo formas familiares, especialmente rostos.
Por exemplo, já olhou para as nuvens e identificou um animal? Ou deu por si a reparar numa tomada de parede que parecia estar a sorrir? 😅 Isso é pareidolia!
O cérebro humano tem uma incrível capacidade (e uma certa tendência) para procurar padrões em tudo o que vê.
Quando se depara com estímulos ambíguos ou indefinidos, ele tenta “preencher os espaços em branco” com base nas suas experiências anteriores. Às vezes acerta… outras vezes, simplesmente inventa.
👉 Mas vamos ao que interessa, a resposta: Embora algumas pessoas relatem ver um número maior ou menor, a interpretação mais consensual indica que é possível identificar 10 rostos distintos na imagem.
Criada por Edgar Rubin em 1915, esta ilusão demonstra como o cérebro percebe fronteiras visuais, alternando entre ver um vaso em primeiro plano ou dois rostos como o fundo.
De forma simples, o cérebro precisa constantemente de decidir qual parte de uma imagem representa o objeto principal e qual corresponde apenas ao fundo.
Investigadores do Instituto Salk descobriram que os neurónios das camadas mais profundas do córtex visual são os primeiros a atribuir essa posse de fronteira. Funcionam como “decisores centrais”, processando a informação visual e definindo o que é figura e o que é fundo.
Esta capacidade de distinguir rapidamente objetos do fundo é essencial para a nossa perceção e sobrevivência. É o que nos permite, por exemplo, diferenciar uma pedra de uma simples sombra ao conduzir numa estrada – algo vital para interagir em segurança com o ambiente à nossa volta. ⚠️
Em fevereiro de 2015, esta simples fotografia abalou a internet. Para uns, era branco e dourado. Para outros, azul e preto.
O que parecia ser apenas mais uma imagem viral transformou-se num verdadeiro caso de estudo no campo da ciência da visão.
👉 Mas então, afinal, qual é a cor real do vestido? Azul e preto.
A própria autora da imagem confirmou esta informação ao mostrar o vestido fisicamente. E, para os mais céticos, bastou utilizar ferramentas de design para confirmar os tons azulados e castanho/preto da imagem original:
A explicação? O nosso cérebro é perito em interpretar o mundo com base em suposições. Quando uma imagem apresenta iluminação ambígua (e esta foi captada com um telemóvel, em condições de luz incertas), o cérebro tem de decidir: “está à sombra ou sob luz direta?”
Dependendo da resposta, compensa as cores de forma diferente:
Um estudo europeu publicado na revista Vision Research demonstrou que esta variação na perceção da cor está relacionada com diferenças individuais na forma como interpretamos superfícies e iluminação. Ou seja, cada cérebro resolve o "puzzle" da luz à sua maneira, com base nas experiências visuais anteriores.
Curiosamente, outros investigadores sugerem que o seu ritmo biológico também pode influenciar a perceção: pessoas que acordam cedo (os chamados “cotovias”) tendem a ver o vestido como branco e dourado, enquanto os “corujas” (mais ativos à noite) tendem a ver azul e preto.
Interessante, não é mesmo?! 🙂
Esta ilusão foi descrita pela primeira vez pelo psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus, no final do século XIX, e popularizada por Edward Titchener (razão pela qual também é conhecida como ilusão dos círculos de Titchener).
À primeira vista, parece um simples exercício de observação: dois círculos centrais rodeados por outros círculos de tamanhos diferentes.
👉 Provavelmente, o seu cérebro identificou o círculo preto inferior como sendo maior do que o superior. No entanto, garantimos que ambos são exatamente do mesmo tamanho:
🧠 O que acontece no cérebro? A ilusão ocorre porque o nosso cérebro interpreta o tamanho com base em comparações. Quando um círculo central está rodeado por círculos grandes, parece mais pequeno; quando está rodeado por círculos pequenos, parece maior.
Este fenómeno pode ser explicado por múltiplos mecanismos simultâneos e, na verdade, os cientistas ainda não chegaram a um consenso definitivo:
Este é um exemplo clássico de como o nosso cérebro não avalia os objectos de forma absoluta, mas sim em função do contexto!
Esta ilusão clássica, originalmente publicada em 1915 pelo cartunista W.E. Hill, ficou conhecida como Ilusão de Boring após ter sido analisada pelo psicólogo Edwin Boring nos anos 1930.
Alguns vêem uma jovem elegante de perfil, a olhar para o fundo da imagem; outros vêem uma senhora idosa voltada para a esquerda.
👉 Ambas as interpretações estão corretas:
O que cada pessoa vê em primeiro lugar depende da sua perceção individual, e o cérebro pode alternar entre ambas as versões à medida que observa a figura, consoante o foco da atenção.
Isto acontece porque se trata de um estímulo ambíguo, que pode ser interpretado de formas diferentes sem que o estímulo físico se altere. 🙃
Apesar de ainda ser um processo sem grandes respostas concretas, existem 2 teorias principais que procuram explicar este fenómeno:
As ilusões de ótica mostram que a realidade que percebemos é uma construção mental, baseada em expetativas e interpretações.
Estas imagens não só surpreendem como também revelam os limites e a sofisticação do cérebro humano!
Na NeuroImprove Clinic, utilizamos os avanços da neurociência para promover saúde cerebral e psicológica.
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